Apesar da visita de Estado da Rússia, os brasileiros duvidam do papel de Lula como mediador de paz na Ucrânia

 

Acompanhamento de eventos globais | 26 de abril de 2023

No dia 17 de abril, o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, aterrou no Brasil para uma visita de Estado, colocando os Estados Unidos e grande parte da política externa ocidental em alerta. Apesar dos protestos do Ocidente, o Presidente brasileiro Luiz Ignácio Lula da Silva (Lula) deu as boas-vindas a Lavrov, que fez do Brasil a primeira paragem da sua viagem pela América do Sul. Desde que regressou ao cargo no final do ano passado, Lula adoptou um tom mais suave em relação à Rússia e ao conflito em curso na Ucrânia. Lula tem tentado posicionar-se como mediador de paz na guerra e tem-se manifestado contra o armamento ocidental da Ucrânia. A sua retórica incomodou os Estados Unidos, de tal forma que, no início deste mês, a Casa Branca criticou Lula por "espalhar propaganda russa e chinesa sem olhar para os factos". Para entender melhor a perspetiva brasileira sobre a visita de Lavrov, a guerra na Ucrânia e as alianças globais, a Premise lançou uma pesquisa de opinião.

Conhecimentos

  • À semelhança da margem com que ganhou a presidência, o Presidente Lula goza de um índice de aprovação de 52%, pouco mais de um ano após o início da sua presidência.
  • De acordo com os brasileiros, as três organizações noticiosas mais confiáveis para a política e a economia são O Globo (23%), SBT (18%) e RN Network News (18%). Cada uma dessas redes de notícias tem alinhamentos políticos distintos, com O Globo inclinando-se para a esquerda, o SBT caindo à direita do centro e o RN News expressando visões de direita.
  • A visita de Lavrov acontece no momento em que Lula pretende formar uma coligação de países dispostos a intervir e a liderar os esforços de paz na Ucrânia, embora nesse processo se encontre a pisar uma linha ténue com as maiores potências mundiais.
  • No entanto, apenas 19% dos brasileiros pensam que Lula pode mediar um acordo de paz justo. Além disso, há uma variação substancial na perceção da capacidade de Lula de conseguir a paz na Ucrânia com base nas preferências dos brasileiros pelas redes de notícias (ver Figura 1). Os telespectadores de O Globo são os que mais acreditam em Lula, enquanto os telespectadores do RN são os que menos acreditam.
  • Em geral, os brasileiros acompanham a evolução da guerra na Ucrânia. 30% acompanham as actualizações diárias sobre a guerra, 39% semanalmente, 21% mensalmente e apenas 10% não acompanham a guerra.
  • Uma boa maioria dos brasileiros estava ciente da visita de Lavrov (60%). Não é de surpreender que o conhecimento da visita tenha sido maior entre os brasileiros que afirmaram acompanhar diariamente as actualizações sobre a guerra na Ucrânia (77%) e menor entre os brasileiros que nunca acompanharam as actualizações sobre a guerra (21%).
  • É interessante notar que, embora a maioria dos brasileiros (65%) concorde que a guerra da Rússia na Ucrânia foi "ilegal" e 70% mantenham que a Rússia começou a guerra, o sentimento geral sobre a visita de Lavrov foi em grande parte não opinativo. Uma ligeira maioria dos brasileiros (52%) mostrou-se indiferente à visita de Lavrov, 25% sentiram-se envergonhados até certo ponto pela sua visita, enquanto apenas 23% sentiram-se orgulhosos até certo ponto.
  • A maioria dos brasileiros (61%) acredita que nem a Rússia nem a Ucrânia estão a ganhar a guerra. 31% acreditam que a Rússia está a ganhar e apenas 8% acreditam que a Ucrânia está mais perto da vitória. Mas não há tendências perceptíveis nas percepções de qual país está ganhando a guerra com base na preferência de rede de notícias, ou quão de perto eles seguem o conflito.
  • No início de abril, o Presidente Lula sugeriu que o Ocidente estava a "encorajar" a guerra ao armar a Ucrânia. Apenas 24% dos brasileiros concordaram com essa afirmação, 37% discordaram e 38% não concordaram nem discordaram. Por outro lado, os Estados Unidos criticaram Lula por "espalhar propaganda russa e chinesa sem olhar para os factos". 48% dos brasileiros concordaram com essa afirmação, 15% discordaram e 37% não concordaram nem discordaram. Isto sugere que, embora exista um grupo considerável que simpatiza com as mensagens ocidentais sobre a Rússia e a Ucrânia, há ainda uma parte considerável da população brasileira que ainda não se decidiu sobre as mensagens.
  • Em geral, os brasileiros não apoiam o envio de armas para nenhuma das facções na guerra. Apenas 4% apoiam o envio de armas para a Rússia, enquanto 17% apoiam o armamento da Ucrânia. No entanto, existe uma relação entre o grau de proximidade com que os brasileiros acompanham a guerra na Ucrânia e a probabilidade de apoiar o fornecimento de armas aos militares ucranianos (ver Figura 2). 25% dos brasileiros que acompanham a guerra diariamente apoiam o fornecimento de armas à Ucrânia, enquanto apenas 7% dos que nunca acompanham a guerra o fazem.
  • Embora os brasileiros acreditem que os militares ucranianos se comportam de forma mais profissional (34%) do que os militares russos (18%), a maioria dos brasileiros está indecisa sobre o profissionalismo de ambas as facções, com 47% a responder "sem opinião" sobre o profissionalismo dos militares ucranianos e 37% sobre os militares russos.
  • Apesar de apenas 10% dos brasileiros desejarem relações mais estreitas com a Rússia, 40% dos brasileiros pensam que o Presidente Lula procurará estabelecer relações mais estreitas com a Rússia.
  • 63% dos brasileiros prefeririam relações mais próximas com os Estados Unidos, 19% com o Reino Unido, 16% com a China e 2% com a Rússia. Vemos uma variação dessa resposta entre a preferência dos brasileiros por uma rede de notícias e sua preferência por um país parceiro (ver Figura 3). Os telespectadores de O Globo são muito mais propensos a querer relações mais próximas com a China do que os telespectadores do SBT ou do RN. Além disso, os telespectadores da RN News Network parecem ser os que mais desejam relações mais fortes com os Estados Unidos.
  • Ao apresentar aos brasileiros um grupo de países composto por países dos BRICS, do Mercosul e ocidentais, 42% dos brasileiros consideraram que a economia, a política e a posição do Brasil no mundo são mais semelhantes aos países ocidentais, 39% elegeram os países do Mercosul e apenas 19% elegeram os países dos BRICS .
  • Além disso, quando questionados sobre o agrupamento de países com o qual gostariam de estabelecer relações mais estreitas, os brasileiros seleccionaram, na sua esmagadora maioria, o agrupamento de países ocidentais (74%), seguido do Mercosul e dos BRICS.

Metodologia

De 18 de abril de 2023 a 19 de abril de 2023, a Premise inquiriu uma amostra estratificada de 1.901 adultos, representativa por idade, género e geografia em todo o Brasil. Foram aplicados pesos de pós-estratificação para alinhar a demografia da amostra real com a população-alvo com base na região, idade e sexo.

Premise em ação

A Premise oferece uma capacidade única de obter rapidamente informações de pessoas reais no terreno em locais de difícil acesso. Mais de cinco milhões de pessoas em 140 países estão a utilizar a aplicação Premise nos seus smartphones, permitindo aos nossos clientes monitorizar uma situação ao longo do tempo e empregar uma abordagem baseada em dados para uma tomada de decisão atempada.